Ao perguntar ao ator qual é o seu motor pessoal, esta pergunta essencial ao treinamento teatral acreditamos que ele possa responder que o motor pessoal é a busca por trás das ações e das escolhas das pessoas de teatro. Esse motor pessoal é, para Eugênio Barba a “temperatura”. Não adianta ter boa vontade, mas carecer de força motriz. Esse motor está em nosso interior. Não é uma idéia ou uma pessoa, mas compromete cada um na sua totalidade, até as raízes mais profundas de si mesmo.
O treinamento é entendido como aprendizado e pesquisa. E qual seria então o material dessa pesquisa? O espetáculo que está sendo montado? A trajetória do personagem? Não. O corpo é o material desta pesquisa: “o corpo é meu país”. Como diz Eugênio Barba: “o único lugar no qual eu sou sempre: não importa onde eu vou, estou sempre em mim, sempre em meu país. Nunca estou no estrangeiro, nem no exílio, quando não estou separado do meu corpo”.
Neste sentido, o treinamento é a procura desta cultura individual – no sentido de indivíduo e não de individualismo – e única de “nosso país”. E para isto é necessário tirar os condicionamentos e os reflexos com os quais estamos acostumados e nos permitir descobrir nossa possibilidades.
Um corpo cai. Cai não porque é provocado, cai por que cai. E é preciso se deixar cair.Eugênio Barba dá um exemplo dessa ação quando afirma que “existe uma segurança que é resultado da inércia, da entropia e existe uma segurança que é resultado do dinamismo de forças contrárias, das tensões que se confrontam. Existe a segurança de um monte de pedras esparramadas pela terra. E a segurança do montão de pedras que, através de forças opostas, elevam-se para as alturas, convertendo-se, assim, em arquitetura. A arquitetura ajuda-nos a visualizar esta qualidade das oposições, das tensões, que são as pulsões e o coração de tudo que está vivo.
Os componentes básicos das catedrais são pedras, cujo peso as destinaria a cair na terra. Imprevisivelmente, estas pedras parecem não ter peso, aéreas, como se tivessem uma espinha dorsal para cima, como uma intensidade, uma voz que canta, se eleva, voa. É este o segredo da arquitetura, mas também da “vida” do ator: a transformação do peso e da inércia, por meio do jogo das oposições, em energia que voa. O teatro, como a arquitetura, é saber descobrir a qualidade das tensões e modelá-las em ações”.
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