"O ator curioso é aquele que investiga, ler e descobre a historicidade de cada personagem por ele criado." Pawlo Cidade

quinta-feira, 31 de maio de 2012

NÃO-MOVIMENTO É NÃO-PENSAMENTO


Vamos entender um pouco mais sobre o Não-Movimento


Um ator está tentando atravessar uma ponte. Ele interpreta um viajante que, depois de uma longa caminhada, precisa cruzar uma ponte, velha, presa por cordas, com tábuas quebradas ou estaladas. A ponte é longa. Tem quase duzentos metros de extensão. Só uma pessoa pode passar por vez. O que separa a ponte de um lado a outro da estrada é um abismo, profundo, que mal dar para enxergar o rio que passa lá em baixo. O viajante respira fundo. Olha para a ponte, olha para o abismo, olha para o outro lado da ponte. Ele começa a atravessar. As tábuas vão estalando, parte da corda vai se rompendo. Surgem então várias indagações: a ponte vai se quebrar antes mesmo do viajante chegar ao outro lado? Ele vai cair? Ele vai conseguir?
Neste momento, nasce então uma bipolaridade: de um lado, o ator (viajante, andarilho) que não tem outra saída senão cruzar a ponte e seguir o seu caminho; do outro, a plateia, que, silenciosa, assiste a tudo. A plateia vai junto com o viajante. É neste momento que nasce o Não-Movimento. Ator e plateia se envolvem ao mesmo tempo com o problema. A angústia de saber se ele vai cair ou não (ação da plateia); e o desejo de transmitir esta angústia (ação do ator) criam esta dualidade.
De repente, no meio da ponte, o viajante pára. Ele olha para a frente: falta pouco; ele olha para trás: há uma ansiedade para voltar. Este estado de suspense deve haver sempre, se seque criar um Não-Movimento. Não é o simples fato de parar, de congelar, que estaremos realizando este Não-Pensamento, pois, no Teatro, mesmo parado, estamos atuando. Portanto, como bem afirma Viola Spolin: “o objetivo é criar uma área de repouso, ou de não-pensamento, entre as pessoas, exatamente no momento em que elas estão ocupadas com o diálogo e a atividade no palco. Se for realizada corretamente, a energia explode por esta área de repouso ou de não-pensamento e se expressa por meio do uso singular de adereços, diálogo, intensifica relacionamentos de personagens e gera tensões crescentes na cena”.
O viajante olha fixamente para o outro lado. E, como se uma coragem súbita lhe dominasse o espírito, ele corre, na tentativa de chegar o mais rápido possível na outra margem. As cordas vão se partindo, as tábuas se transformam em pedaços; o lado oposto se rompe, a ponte começa a cair. Desesperado, o viajante se agarra às cordas que se partem; a ponte o joga de encontro ao abismo. É o fim? “Alguns atores acham as palavras “silêncio”, ou “calma”, ou “espera”, mais eficazes para atingir o sentimento físico, necessário para o exercício”, afirma Viola. O viajante, pendurado pelas pontas que lhe sobraram, esforça-se para subir os últimos metros que lhe restam até o outro lado. Neste momento, conseguimos atingir o objetivo do exercício: “parar o pensamento conceitual e a verbalização de relacionamento. (...) Ao manter ocupação completa no palco, a preocupação de Não-Movimento desdobra a cena passo a passo”.
Não-Movimento é Não-Pensamento.

OBS.: A aula do dia 04 de junho será com a professora Bianca, de Expressão Corporal. Não faltem. Teatro Municipal, às 19h00.

2 comentários:

  1. Olá Paulo, estou de volta ao mundo da internet, rsrs, ressuscitei!! Terá aula no dia 11? Aguardo resp. Grande abraço.

    OBS.: Meu certificadooo!!!
    rsrsrs, agora não tem como o senhor dizer que esqueceu... =D

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  2. Seja bem-vinda de novo! Levarei seu certificado no dia 18.

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