COM A CHAVE NA MÃO: NOVAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O GRUPO

Fiquei pensando por onde começar: Ellen? Aline? Fátima? Pedro? Jorge? Manuela? Luana? Gabriel? Lenoly? Ou pelos que ainda faltavam? Itaciara, Sílvia e Bruna? Ellen estava segura ao interpretar "José", de Carlos Drummond de Andrade. Foi ela mesma. Segurou até o fim. "...A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou..." e Ellen continuou lá perguntando "E agora, José? E agora, você?" Com um toque aqui, outro ali e Ellen irá endireitar os "caminhos tortos" e compreenderá como adentrar neste universo tespiano.

Aline, ao dizer que estava nervosa parecia interpretar a própria ansiedade e, se entregou. Podia investir mais. Porém, teve medo. E medo é um sentimento que atriz nenhuma tem que possuir. É preciso trabalhar com e para o medo. Já, Fátima, com toda sua timidez conseguiu pela primeira vez esboçar um texto simples e profundo. Quando se fala em "Paz", se busca a paz. Quando se quer "paz," a paz vem até nós. Fátima quis paz. E paz, foi o que ele teve depois que deixou o palco. (Ufa!)

Pedro está engatinhando. Concentração, Pedro, concentração! Jorge tenta subir um degrau para encontrar Dionísio e beber um belo "vinho" com Téspis. Só espero que ele não fique nu, suba em um cavalo e diga que o sol é azul! Vou ficar de olho.

Manuela, você precisa parar de correr atrás das borboletas. Você não vai conseguir pegá-las deste jeito. Vai correr, correr, correr e acabar se cansando. Quer mesmo pegar uma borboleta azul? Vermelha? Amarela? Ou preta? Então, minha amiga, regue seu jardim. E "regar o jardim" requer concentração, pesquisa, dedicação. Senão, vai ficar a vida inteira tentando alcançá-las.

Luana, talvez falte em você uma coisa: determinação. E isto requer objetivo. Afinal, o que você deseja mesmo? Quer que as artes cênicas sejam integrais em você, então, dedique-se a elas por inteiro: dança e teatro, teatro e dança. Uma coisa de cada vez. Seus movimentos circulares, a direção de seus gestos, o olhar, a virada... dança! O movimento, Teatro! Teatro, Dança. Luana, e aí? Decidiu?

Gabriel, se não fosse pelo texto artificial, já que você se preocupou em "decorar", ao invés de memorizar, sua apresentação teria alcançado o objetivo. Entretanto, percebeu que concentração é importante? Que o foco é um ponto de partida? Que o caminho precisa ter uma direção? Amassar barro ou pisar cacau fica para a escola. Fixe. Mire. Aponte. Siga. Aconteça.

Lenoly, Lenoly... que tu queres na janela? Abra a porta, invada a calçada, corra pela rua, mergulhe na cachoeira. Faça como "José", "que faz versos, que ama, protesta." Lenoly, se "cuspir não pode, a noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio, não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou e agora?" E agora? Levanta, sacode a poeira, dá a volta por cima e acredite. Acredite que você pode, que você quer, que você consegue. De repente, um texto que parecia complicado, numa tarde complicada, se tornou simples, num banco no meio do palco. É assim. Vai ser sempre assim.

Finalizo com uma paráfrase, pensando na estrofe do “José” de Carlos Drummond de Andrade e na interpretação de Ellen: 

"Com a chave na mão

vocês podem abrir a porta.

E, se não existir porta, arrombem a janela

e corram para a vida.

Mesmo que a vida seque, como o mar.

E se não existir mais o mar.

Há um rio que corta o coração de cada um."

Um abração à todos,

Pawlo Cidade