Domingo que vem, dia 07 de outubro, a gente tem um papel importante.
As
cortinas estão fechadas e os atores estão em polvorosa no palco. Correm de um
lado a outro, ainda decorando seus papéis, declamando seus versos, memorizando
suas marcações (é que neste tipo de espetáculo a gente tem que saber exatamente
onde pisa). Foi dado o primeiro, o segundo e agora falta pouco para que o
terceiro sinal assinalasse o início da peça.
Na
verdade, a peça já tinha começado. É que ela começa nos ensaios. E os ensaios
já estão nos muros do palco, com seus largos slogans, ora esdrúxulos, ora
cômicos ou até mesmo filosóficos. Difícil não perceber, principalmente quando
se compara bichos com homens e confundem-se estes daqueles. Há ainda os que
dizem que a hora é essa, já que muitos já tiveram sua hora e por isso mesmo
eles precisam ter a deles.
Ah, esses atores são engraçados. Falam uns dos outros, se inflamam com pouca coisa, acham que sabem tudo e sempre respondem que “ensaiar, pra quê? O texto já está decorado, o resto é repetição. A platéia não sabe mesmo quando a gente erra. É só improvisar e pimba!” E vão levando na mesma canastrice de sempre. Culpa do diretor. Por quê, não? Quem é que escolhe os atores para os personagens? Quem é que os coloca lá para recitar seus poemas? Se o ator falha, falha o diretor, o iluminador, a sonoplastia, etc.
Terceiro
sinal. Cortinas abertas. Essa peça tem tantos atores que fica difícil saber
quem é quem. Em cena: médicos, advogados, dentistas, professores, aposentados,
pescadores, jornalistas, radialistas, bademeiros, padres, pastores... E é
tanto, mais tanto, que a gente não sabe quem prestar mais atenção. E o pior é
que a gente vai ter que escolher o melhor (ou os melhores).
Durante
essa curta temporada, muitos vão perceber que subiram no palco errado; outros
irão se juntar; outros ainda ficarão apenas nos ensaios; outros pensaram a vida
toda que são atores; e tem aqueles que na ânsia de ser escolhido atiram pra
tudo quanto é lado, deixando apenas os estampidos. Mas, deixemos estas
analogias de lado e vejamos as dificuldades da produção. Como eu disse a peça
começou muito antes das cortinas se abrirem, por isso mesmo merece algumas
considerações:
Patrocínio. O espetáculo é patrocinado por um grupo. Só que o grupo não poderá bancar todos os atores. Assim, os atores terão que arranjar outros patrocínios para sobreviverem durante a pré-temporada. É que quem passa por ela é patrocinado por quatro anos. E quantos desses atores têm condições de conseguir recursos para se manter? Um pedaço de papel, escrito a lápis, não convence patrocinador.
Projeto.
Projeto bonito, sem fundamentação, muito menos. Como ser produtor, sem ser
oportunista? Como ser produtor sem ter recursos? Como obter recursos, sem ser
produtor? É preciso convencer, para ser financiado, porque, amigos, nessas
horas são poucos. Todavia, tudo isso ainda existe o fator sorte. E é esse fator
que muitas vezes colocam aqueles que pensam que são atores, entre os centenas
da longa temporada. E aí, sim, eles podem dizer: agora é minha vez!
Os
atores de plantão que me perdoem, mas, tenho pena da platéia que, muitas vezes
é forçada a assistir esses atores em cena e engolir suas verborragias,
promessas, sonhos, projetos etc., como se eles fossem mesmo capazes de fazê-lo.
Deviam pelo menos ler a peça antes para ver do que se trata. Já que muitos
entram em cena sem nem ao menos entender a trama direito. E saem de cena, sem
até mesmo, lembrar da personagem que interpretou.
Pense duas vezes antes de comprar o ingresso (muitos chamam de voto!). E, como não tem jeito mesmo, comprem sabendo que vai valer a pena. Mesmo que seja para o coletivo. Já que, geralmente, só pensamos no texto que o ator poderia recitar para nós e, de fato, o elenco só poderá ser trocado daqui a quatro anos outra vez.
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