“Não acredito que o trabalho do ator seja mostrar o que
ele (ou ela) é capaz de fazer, mas levar o público a um outro tempo e espaço; a
um lugar que o público não encontra na vida diária. O ator é como o motorista
de um carro que transporta o público para algum lugar além, algum lugar
extraordinário. Esse é o meu interesse em servir ao público.”
Yoshi Oida
Cena do filme: As Aventuras de Pi
O Teatro é para mim uma profissão.
Um troço sério. Chego a afirmar no meu primeiro livro que ele é como um
sacerdócio, uma vocação, uma religião. Sou um diretor – também – de atores e
atrizes. Gosto de construir, re-construir e destruir para que haja
renascimento. Só que minha “destruição” é pacífica. Ela não é dita
explicitamente no texto dramático, mas “se salienta da maneira pela qual o
texto é interpretado pelo ator.” E, quando faço isso estou trabalhando o
subtexto que é, exatamente, isso que acabei de afirmar. “O subtexto é uma
espécie de comentário efetuado pela encenação e pelo jogo do ator, dando ao
espectador a iluminação necessária à boa recepção do espetáculo,” assinala
Patrice Pavis.
Observem que esta ideia de
subtexto surgiu com Stanislavski. Ele, o subtexto, é um instrumento psicológico
que informa sobre o estado interior da personagem, cavando uma distância
significante entre o que é dito no texto e o que é mostrado pela cena. O
subtexto é o traço psicológico ou psicanalítico que o ator imprime a sua
personagem durante a atuação.
Vocês precisam entender o
seguinte: Todo e qualquer texto é encenado a partir de uma compressão que é
exercida sobre ele. O texto, por exemplo: “Não quero” ou “Não posso” pode até
ter um significado oculto para o público, mas ele tem um significado concreto
para o ator ou para a atriz. Não quero “o quê?” Não posso, “por quê?” A
pergunta está implícita. O subtexto nos remete ao discurso da encenação: “o
subtexto começa e controla toda a produção cênica, impõe-se mais ou menos
claramente ao público e deixa entrever toda uma perspectiva inexpressa do
discurso, uma pressão por trás das palavras.”
O subtexto nos remete à
naturalidade. Talvez até a criação de uma partitura cênica, embora os puristas
do texto o considerem um fim em si. Entretanto, apesar de possuírem conceitos
divergentes, subtexto e partitura cênica nos remete a uma subpartitura do ator.
Calma, não estou substituindo a palavra “subtexto” por “subpartitura”, limitada
demais ao teatro psicológico e literário. Não sou um diretor cinestésico e
emocional, articulado com base nos pontos de referência e de apoio do ator. O
fato é que, a subpartitura pode se manifestar através do espírito e do corpo do
espectador. Ou seria do ator?
Pawlo Cidade
Professor de Teatro
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