"O ator curioso é aquele que investiga, ler e descobre a historicidade de cada personagem por ele criado." Pawlo Cidade

quarta-feira, 6 de abril de 2011

FISICALIZAÇÃO: O ator cria a realidade teatral tornando-a física.

Everton, mímico do Paraná

Bem, na Aula 4, próximo dia 11 de abril, segunda-feira, iremos trabalhar a "fisicalização". O termo "fisicalização" - usado no trabalho de Viola Spolin - descreve a maneira pela qual o material é apresentado ao jogador num nível físico e não verbal, em oposição a uma abordagem intelectual e psicológica. A "fisicalização" propicia ao jogador uma experiência pessoal concreta, da qual seu desenvolvimento posterior depende, e dá ao professor e ao jogador um vocabulário de trabalho necessário para um relacionamento objetivo.

(...)
A realidade só pode ser física. Nesse meio físico ela é concebida e comunicada através do equipamento sensorial. A vida nasce de relacionamentos físicos. A faísca de fogo numa pedra, o barulho das ondas ao quebrarem na praia. A criança gerada pelo homem e pela mulher. O físico é o conhecido, e através dele encontramos o caminho para o desconhecido, o intuitivo. Talvez para além do próprio espírito do homem.

(...) O papel do artista é dar a visão. Sua crença deve ser preocupação nossa, pois que é de natureza íntima e privada do ator. Não devemos nos preocupar com os sentimentos que o ator utiliza no palco.
Estamos interessados somente na comunicação física direta; os sentimentos são um assunto pessoal. Quando a energia é absorvida num objeto físico não há tempo para "sentimentos". Se isto parece rude, esteja certo de que insistir no relacionamento objetivo (físico) com a forma de arte traz uma visão mais clara e uma maior vitalidade, pois a energia retida no medo de se expor é liberada na medida em que o aluno reconhece que ninguém está interessado em saber onde ele escondeu o cadáver.

Jaqueline Valdívia, atriz e mímica

O ator pode dissecar, analisar e desenvolver até mesmo um caso em torno de seu papel se ele for incapaz de assimilar e comunicá-lo fisicamente, terá sido inútil para a forma teatral. Não liberta seus pés nem traz o fogo da inspiração aos olhos da plateia. O TEATRO NÃO É UMA CLÍNICA. Não deveria ser um lugar para se juntar estatísticas.

(...)
Quando o ator aprende a comunicar-se diretamente com a plateia através da linguagem física do palco, seu organismo como um todo é alertado. Empresta-se ao trabalho e deixa sua expressão física levá-lo para onde quiser. No teatro da improvisação, por exemplo, onde pouco ou quase nenhum material de cena, figurino ou cenário são usados, o ator aprende que a realidade do palco deve ter espaço, textura, profundidade e substância - isto é, realidade física. É a criação dessa realidade a partir do nada, por assim dizer, que torna possível dar o primeiro passo, em direção àquilo que está mais além. 
Compreendeu?

(Improvisação para o Teatro, Viola Spolin. Editora Perspectiva, 1992, 3a. ed., São Paulo, pp. 13-5)

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