"O ator curioso é aquele que investiga, ler e descobre a historicidade de cada personagem por ele criado." Pawlo Cidade

quinta-feira, 7 de abril de 2011

BIZANTINOS E NAIFS NA PLATEIA


Alessandro Fersen (1911-2001) foi precursor dos “laboratórios-escola” e das “oficinas” que hoje surgem por toda parte, na Itália e em diversos países. No seu livro-depoimento “O Teatro, em suma”, é basicamente o relato de sua fascinante experiência: o nascimento e a evolução de um novo conceito de Teatro, mais próximo de suas origens míticas e rituais e, em seu todo, mais adequado aos desejos da sociedade atual.



Na primeira parte da obra (A situação teatral), ao falar sobre a agonia do espectador, ele nos descreve dois indivíduos, completamente distintos, que sempre estão na plateia, sentados um ao lado do outro, entretanto – como ele mesmo diz – “oferecem o exemplo mais flagrante de duas qualidades opostas de atenção teatral”.


Ele estava referindo-se ao espectador “naif” e ao espectador “bizantino”. O primeiro adere de corpo e alma à trama do espetáculo; sua adesão é acrítica. Foi ao teatro para deixar-se envolver por uma “história”. Transferiu-se para o palco assim que o pano se levantou: é um ator visual. Agora está concentrado na fala dos atores-personagens e até imita o movimento de seus lábios, repetindo interiormente cada palavra que é pronunciada. Depois, vai até fazer algumas críticas: mas todas elas dependerão da possibilidade de participação que o espetáculo lhe propiciou.


(...)

Por outro lado, aprecia o espetáculo o espectador bizantino. O acontecimento dramático chega até ele filtrado através de seus diafragmas culturais. Entrega-se ao enredo com cautela. Sua atenção crítica despe o personagem de seu disfarce e põe a nu o ator que assumiu a alma do personagem. Com a mesma frieza, o olho bizantino examina o cenário, as roupas, o jogo de luzes; enquanto isso, o ouvido distingue as músicas da cena. A avaliação que resulta disso diz respeito à direção, estabelece comparações com o texto, ratifica o nível dramatúrgico do roteiro inédito...

(Leia mais na Edição de sábado, dia 09/04/11, do Diário de Ilhéus, Caderno 2, página 1)

4 comentários:

  1. Sempre há um "bizantinO" na platéia. Deficiência que maiOria das pessOas têm de se envOlver cOm a trama. Dificuldade essa, gerada pela falta de concentraçãO existente.
    Se nãO interessa, nãO vá. Se nãO cOmpreende, pergunte!!

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  2. Bom, discordo do desprezo q Nanna (com sua licença), deu ao espectador bizantino.
    Ora Nanna necessitamos de críticas para desenvolvermos cada vez mais a nossa arte e o Naif não proporciona isso a nós, pois como Alessandro Fersen colocou o Naif tem postura acrítica e está interessado na diversão de participar da peça. Enquanto que o bizantino quer o q vc tem na sua essência de ser ator, sem trejeitos ou exageros que comprometam a atuação, por isso ele vê o ator nú. No texto "A insustentável leveza do palco" Stanislavski citado pelo prof. Pawlo diz: "Temam os seus admiradores!(...)Falem a respeito de sua arte somente com aqueles que podem lhes dizer a verdade". Então pergunto: você prefere ter uma platéia só composta por Naifs ou mesclada com bizantinos?

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  3. Muito bem, meninas. A proposta é essa: suscitar o debate. Um abraço e até segunda-feira.

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  4. RespOndendO a minha dedicada cOlega (rs), digO que, Obviamente, nÓs apreciadOres e bOns "entendedOres" preferimOs uma platéia mesclada. Mas, nãO leve tãO aO pé-da-letra a citaçãO que fiz acima, rs. COncOrdO, COMPLETAMENTE, cOm tudO, digO tudO mesmO, que vc escreveu acima. SOmente enfatizei O que qualquer Outra pessOa, VULGARMENTE, diria. Na verdade, quis falar um poucO a linguagem " pOvística", rsrs, Ou até mesmO "bizantina" tratandO-se de igual pra igual.
    Imaginei mesmO que alguém fOsse debater, essa fOi a intençãO... =)
    COMPREENDEU?? rs
    Mas nãO se espante, essa linguagem assusta assim mesmO!! ;)
    Mais alguém pra debater??

    Grande abraçO e até segunda.

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