Cena do espetáculo "Otelo", direção de Marcos Antonio Rodrigues
Para compartilhamento, escolhi este trecho do capítulo I - A Primeira Prova, do livro "A Preparação do Ator", de Constantin Stanislavski*. Este livro é leitura indispensável para o praticante de teatro. Observem como o personagem que narra a ação descobre o processo de criação:
(...) Chegando em casa, tarde, peguei meu exemplar de Otelo, instalei-me confortavelmente o sofá, abri o livro e comecei a ler. Mal terminada a segunda página, senti-me tomado pelo desejo de atuar. Sem querer, minhas mãos, meus braços, minhas pernas, meu rosto, meus músculos faciais e qualquer coisa dentro de mim, tudo se pôs a mexer. Declamei o texto. Descobri, de repente, uma grande espátula de marfim. Meti-a na cintura, feito um punhal. Minha toalha de banho felpuda serviu de branco albornoz. Com os meus lençóis e cobertores fiz uma espécie de camisa e de túnica. Fiz meu guarda-chuva de cimitarra, mas ainda faltava o escudo. Ocorreu-me, então que, na sala de jantar, anexa ao meu quarto, havia uma grande bandeja. De escudo em punho, senti-me um legítimo guerreiro. Mas meu aspecto geral era moderno e civilizado, ao passo que Otelo, de origem africana, devia ter uma sugestão qualquer de vida primitiva, algo de um tigre, talvez. Para evocar, sugerir e fixar o andar de animal, comecei toda uma série de exercícios.
Tive a impressão de que muitos desses momentos deram ótimo resultado. Eu trabalhara quase cinco horas sem ver o tempo passar. Isto me pareceu uma prova de que a minha inspiração era real. (...)
(*A Preparação do Ator, Constantin Stanislavski, Editora Civilização Brasileira: 1999, pp.28)
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