"O ator curioso é aquele que investiga, ler e descobre a historicidade de cada personagem por ele criado." Pawlo Cidade

sexta-feira, 1 de abril de 2011

TEATRO É TRABALHO

Roma Góes, ator de Cangaço, em laboratório

Teatro, além de ser arte e entretenimento, é antes de tudo, trabalho. Digo isto no sentido mais estrito da palavra. Há alguns procedimentos que são tomados durante uma oficina que permitem ao aluno/aprendiz/jogador descobrir e se aprofundar no processo criador. Seguindo um esquema de metas podemos juntar informações e experiências suficientes para emergir uma nova compreensão do meio com o qual trabalhamos.
Todo processo criador possui um sistema. Seja consciente ou inconsciente. Posso não possuir uma fórmula para ensinar interpretar, mas, certamente desenvolvo um sistema que permite a entrega, o encontro, a experienciação do aluno/aprendiz/jogador com o palco.
Neste novo curso que dei início este ano, estou pautado nos jogos teatrais propostos por Viola Spolin. Através do seu fichário é possível planejar algumas aulas. Cada encontro é uma nova descoberta. Se, o aluno/aprendiz/jogador descobrir que há um fio condutor em todo o processo criador, então ele perceberá que a interpretação é 90% trabalho e 10% inspiração. Não estou afirmando com isso que a técnica sobrepõe o dom, mas, se este não vier acompanhado daquela, certamente o futuro ator estará fadado ao fracasso.
Quatro elementos são importantes no planejamento e execução da oficina. O primeiro é o POC - Ponto de Concentração. O POC libera a força grupal e o gênio individual. Através do POC, o teatro, uma forma de arte complexa, pode ser ensinado ao jovem, ao iniciante, aos velhos, aos encenadores, professores, médicos e donas-de-casa. O POC os libera para entrar numa excitante aventura criativa, e assim dá significado para o teatro na comunidade, na vizinhança, no lar. O POC torna possível a percepção, ao invés do preconceito; e atua como um trampolim para o intuitivo.
Com a singularidade do foco, todos observam a solução do problema, e não há divisão de personalidade. Tanto para os jogadores como para a plateia, a diferença entre observar e participar diminui na medida em que a subjetividade dá passagem para a comunicação e torna-se objetividade. 
O segundo elemento é a Técnica de Solução de Problemas. Ela dá um foco objetivo mútuo ao professor e ao aluno. Em palavras simples, consiste em dar problemas para solucionar problemas. Ela proporciona a professor e aluno o contato direto com o material, desse modo desenvolvendo o relacionamento ao invés da dependência entre os dois.
O terceiro elemento é a Avaliação. Ela se realiza depois que cada grupo termina de trabalhar com um problema de atuação. É o momento para estabelecer um vocabulário objetivo e comunicação direta, tornada possível através de atitudes de não-julgamento, auxílio grupal na solução de um problema e esclarecimento do Ponto de Concentração.
E por fim, a Instrução. Ela dá a auto-identidade e age como um guia enquanto se está trabalhando com um problema dentro de um grupo. Como num jogo de bola, ela é aceita pelo aluno/aprendiz/jogador, uma vez compreendida. A Instrução é usada enquanto os jogadores estão trabalhando no palco.
            Toda esta sistematização, proposta por Viola Spolin ajudará o aluno/aprendiz/jogador a entender cada enunciado dado pelo foco. A mente ocupada em um ponto focal permite movimento estabilizado, o jogador é liberto para a resposta plena, sem censura, orgânica, diante dos muitos estímulos e fenômenos em constante mutação que entram ou emergem durante o jogo. Atitudes, atenção difusa, defesas e censuras - segundo Viola Spolin - são absorvidas diante do foco estabelecido e a resposta espontânea se torna uma probabilidade.
            

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