Navegando no site do CEPETIN, li um texto de Carlos Augusto Nazareth que compartilho com vocês à título de uma reflexão sobre o Teatro ser ou não "imitação da vida":
"A origem primeira do teatro se perde nas noites dos tempos quando o homem das cavernas, voltando de suas caçadas, reproduzia para seu grupo suas histórias, revivendo lutas, medos, rasgos de coragem vivenciados. Nasce, assim, a narrativa - esta é a origem dos contadores de histórias, transmissores do saber humano e esta é também a origem do teatro, quando os homens re-viviam suas façanhas de luta, medo e coragem.
As narrativas se especificaram, se multiplicaram em gêneros diversos e apesar de hoje, no início de novo século, as quebras de fronteiras entre gêneros dominarem a produção pós-moderna, as características básicas e fundamentais de cada narrativa continuam como sinalizadores fundamentais de cada uma delas.“... os trânsitos culturais carecem de sinalizações, pois as marcas de identidade permitem que a polifonia se distinga de um falatório vazio, de um vale-tudo em que as diferenças são negadas para facilitar o jogo do mesmo, disfarçado de outro” (Aparecida Paiva in “No fim do século: a diversidade – o jogo do livro infantil e juvenil.”).
O teatro tem suas sinalizações próprias. Deve ser, antes de tudo, tomado como Obra de Arte – expressão difícil de se definir – dentre as inúmeras tentativas, diz Jean-Louis Ferrier: “O indizível – aí é que começa a Arte”.O espetáculo teatral, em todos os tempos, em todas as civilizações, tem o caráter ritualístico, como outro parâmetro.. Esta origem ritualística, como todo ritual, pretende mantê-lo fiel a seus princípios básicos e, como ritual, a celebração obedece a uma série de preceitos que constituem a sua própria essência narrativa que é o contar.
Sistematicamente o teatro só começou a ser analisado como narrativa em 1915, pelos formalistas russos; o teatro congrega inúmeras manifestações artísticas do ser humano: a dança, o canto, a palavra, o gesto – e assim chegamos a idéia de tecido – inúmeras linguagens que se entrelaçam e criam uma tessitura una. Partindo deste conceito de tecido, trama, urdidura, o espetáculo teatral é um tecido composto de diversas linguagens: o texto, o ator – corpo, voz, emoção - cenário, figurino, música, luz.
Um espetáculo teatral, tomado como Obra de Arte revive, com todas as emoções, fatos acontecidos em passado remoto ou próximo ou fatos que projetamos irão acontecer. Isto se faz “in praesentia” do espectador, naquele momento, único, que não se repete, por isto efêmero. O texto é o registro que eterniza a idéia, mas a encenação é que proporciona este fato único – a vivência que o teatro proporciona quando mostra, mimetiza, em seu conceito mais amplo o fato acontecido ou a acontecer.O teatro continua discutindo as questões do homem, em vários níveis e formas, mas as perguntas básicas estão sempre lá presentes. Quem sou? De onde venho? Para onde vou? O teatro tem também função estética, cartártica, questionadora, transformadora, política, social, que enquanto obra de arte fala do homem, para o próprio homem, questiona e provoca o homem. Por isso o teatro – em sendo uma obra de arte – tem todas estas funções em si mesmo. Assistir a um espetáculo teatral deve ser o suficiente para que todos estes mecanismos da razão e da emoção disparem no espectador, sem ensinamentos e assim a aprendizagem acontecerá de modo natural, respeitadas as individualidades de quem assiste.
A discussão sobre e após o espetáculo teatral pode acontecer, mas quando com caráter investigativo, de profissionais ou interessados em melhor compreender este fenômeno artístico e nunca para se entender o espetáculo, que tem que se fazer compreender e exercer sua função por si mesmo.“O teatro é imitação da vida” – essa máxima leva muitas vezes a equívocos que tangem áreas perigosas. O teatro não é um processo puramente imitativo. O imitar aristotélico é o imitar das ações do homem, das questões humanas. O imitar o estado do homem e não a ação simplesmente é aquilo que recria o clima em que se deu a ação com a mesma emoção, motivação e conseqüência. Portanto, a mimesis é, para Aristóteles, ativa e criativa e não meramente reprodutora de ação desprovida de sentimento e descontextualizada..."
HOJE É A AULA 18, no Teatro Municipal de Ilhéus, às 19h00.
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