Scarlett em "Moça em Brinco de Pérola",
interpretação primorosa.
Todo o meu trabalho é sistematicamente stanislavskiano. Explico: faço parte da corrente que acredita que toda ação física é, primeiramente, orgânica. Em nosso ser interior há muitas tensões supérfluas. Contudo, é necessário lidar com estas tensões interiores de uma forma totalmente diferente daquela com que, por exemplo, lidamos com os nossos músculos.
Um ator deve conhecer a natureza dos sentimentos, sua lógica e continuidade. Todos momentos, todas as ações têm justificativa interior. O dramaturgo Constantin Stanislavski afirma que para a maioria dos atores qualquer paixão humana – amor, ciúmes, ódio etc – é uma emoção poderosa e generalizada. Isso não corresponde à verdade. Ele ainda diz: “Toda paixão é um complexo de coisas experimentadas emocionalmente, o somatório de uma grande variedade de sentimentos, experiências e estados interiores. Todos esses compenentes não são apenas numerosos e variados, mas também contraditórios. É comum encontrarmos, no amor, ódio e desdém, admiração, indiferença, êxtase, prostração, constrangimento e desfaçatez”.
O Sistema Stanislavskiano é o resultado de uma vida inteira de dedicação a arte de interpretar. Como ele mesmo diz, ao longo de muitas tentativas, tentei desenvolver um método de trabalho para os atores que lhes dessem condições de criar a imagem de um personagem, infundir-lhe a vida de um espírito humano e, por meios naturais, personificá-lo em cena com arte e beleza. (...) As bases deste método foram meus estudos sobre a natureza do ator.
A primeira proposição é: “Não existem fórmulas sobre como tornar-se um grande ator ou representar este ou aquele papel. Muitos são os passos necessários para se chegar, em cena, ao verdadeiro estado criador de um ator.”
A segunda proposição: “Um verdadeiro estado interior de criação em cena permite a um ator executar as ações que lhe são necessárias para que possa ajustar-se às circunstâncias da peça, tanto as ações psicológicas interiores quanto as ações físicas exteriores.”
A terceira proposição é: “A ação orgânica sincera resultará certamente na expressão de sentimentos sinceros”.
Em suma: em cena, um verdadeiro estado interior de criação, mais a ação e o sentimento, resultam em vida e naturalidade cênicas na forma de um dos personagens.
