“A focalização influi nos pontos de vista das personagens e, por conseguinte,
naqueles do autor e do espectador.”
Patrice Pavis
MANTENHA O FOCOO que faz com que o ser humano mantenha o foco? Colocar as duas mãos abertas ao lado do rosto e só olhar para frente, como fazem os cavalos que possuem viseira? Para uma parcela da sociedade, essa seria a resposta certa. Mas, para quem faz Teatro e está aberto para outras emoções e situações, limitar o olhar apenas a uma visão, seria alienação. E, quem se aliena, dificilmente compreende que precisamos de outros estímulos, outras concepções para, pelo menos, duas opções:
1. Estar certo de que o que você escolheu é o correto ou
2. Mudar o foco.
Na segunda aula de Teatro, desta segunda-feira, este será o tema: FOCO. O Foco é uma insistência do autor numa ação segundo um ponto de vista particular para salientar sua importância. Este procedimento essencialmente épico, aplica-se também ao Teatro. Explico: o dramaturgo, teoricamente ausente do universo dramático, intervém na verdade no desenrolar dos conflitos e na singularização dos personagens principais, subordinando o resto aos elementos enfocados. Isto é também chamado de focalização. “A focalização influi nos pontos de vista das personagens e, por conseguinte, naqueles do autor e do espectador.”
Entretanto, não se pode confundir FOCO de FOCALIZAÇÃO. Embora, alguns estudiosos do assunto apontem estes dois termos como sinônimos. O primeiro conduz o ator a dar vida a uma determinada ação. Foco, como bem afirma Viola Spolin, é uma pausa, um ponto de partida para tudo. Todos se encontram pelo Foco. A instrução que eu passo ajuda os alunos a encontrar, e manter, o Foco que coloca o jogo em movimento e todos se tornam parceiros do jogo ao lidar com o mesmo problema de diferentes pontos de vista. Eu vou ao encontro do Foco; os alunos em cena vão ao encontro do Foco; os alunos que assistem também vão ao encontro do Foco.
Em cena, a Focalização é muitas vezes realizada conscientemente usando um refletor dirigido para uma personagem ou um lugar para atrair a atenção por “efeito de close”. Este close, técnica emprestada do cinema, não é, entretanto, realizado necessariamente por um efeito de luz. O jogo dos olhares dos atores sobre um outro ator ou um elemento cênico, ou todo efeito de evidenciação, produzem-no – salienta Patrice Pavis – do mesmo modo. “É a enunciação da encenação que assegura a valorização (o “enquadramento”) de um momento ou de um lugar da representação.”
É preciso entender que todo Foco é um problema essencial para a atuação que pode ser solucionado pelos atores. A mente ocupada em um ponto focal permite movimento estabilizado. O ator é liberto para a resposta plena, sem censura, orgânica, diante dos muitos estímulos e fenômenos em constante mutação que entram ou emergem durante o exercício teatral. Atitudes, atenção física, defesas e censuras são “absorvidas diante do Foco estabelecido e a resposta espontânea se torna uma probabilidade.”
