"O ator curioso é aquele que investiga, ler e descobre a historicidade de cada personagem por ele criado." Pawlo Cidade

sexta-feira, 15 de abril de 2011

JOGAR E REPRESENTAR



Estamos chegando à quinta aula da Oficina de Iniciação Artística. Estou lendo um livro interessante que comunga muito bem com o processo de transformação dos participantes da Oficina. Apesar de nos encontrarmos uma única vez por semana, a correria do dia-a-dia parece aproximar a distância, fazendo com que o aprendizado ainda permeie pelas cabeças pensantes dos jogadores. É claro que nem todos conseguem entender isso, mas o jogo (a bola com a qual conduzo as aulas) permite a entrega. Vou falar dos principais mecanismos que freiam as possibilidades de você (caro aluno, cara aluna) se empenhar nele.

INIBIÇÃO

Comodamente definida como um "bloqueio", ela se traduz, sobretudo, por uma impossibilidade de superar a angústia causada pelo olhar do outro ou o sentimento de ser ridículo a seus próprios olhos, a famosa consciência de si. Essa "timidez" difícil de superar impede toda manifestação vocal ou motora, torna desajeitados sujeitos que habitualmente não o são. (...) O jogador gostaria de ter a possibilidade de não se mostrar, de não falar, de não "ser".

Observação: Uma das funções do jogo é derrubar uma parte das defesas que provocam inibição.

EXTROVERSÃO

No mínimo tão frequentes quanto a inibição, mas mais difícil de mensurar, as manifestações de cabotinismo prejudicam radicalmente a capacidade de jogo. Cabotino é a pessoa que procura chamar sobre si a atenção alheia; pessoa que gaba vaidosamente, exagerando-as, suas próprias qualidades; exibicionista. (...) O desejo de fazer rir é legítimo, ainda que corresponda, sobretudo nas situações de oficina, a outra manifestação de inquietação diante do olhar do outro, de quem é preciso conseguir a aprovação.

A NEGAÇÃO DO JOGO

Numa situação de jogo na qual o participante parece engajado, de repente, por diversos indícios, ele mostra que não se deixa iludir com aquilo que faz, estando a ponto de cessar seu engajamento a qualquer momento. Essa perda repentina da concentração se manifesta por diferentes atitudes: a "piscadinha" ou o sorriso dirigido aos espectadores, alusões verbais à realidade imediata, ao aqui e agora do jogo, exprimem um mal-estar ou buscam encorajamento, restabelecem o contato com aqueles que estão fora do jogo, na esperança de que eles manifestem seu assentimento, ou pelo menos sua presença.

O SAVOIR-FAIRE LIMITADO

Uma formação parcial, restrita a alguns elementos de técnica teatral, pode ser um obstáculo ao jogo. O participante reutiliza ingenuamente o que sabe fazer, provando que "fez teatro" ou simplesmente, e com toda a boa-fé, porque está persuadido de que é preciso fazer desse modo.

Jean-Pierre Ryngaert no seu livro "Jogar, representar" que estou lendo, ainda afirma que estes obstáculos ao aumento da capacidade de jogo, escolhidos entre os mais flagrantes, desaparecem com o tempo e o acúmulo de experiências. Não desaparecem simplesmente porque foram observados ou denunciados por um olhar externo.

De fato, o tempo e a experiência do jogador faz com que ele tome consciência dessas atitudes e, finalmente, atue.
Capa do livro

5 comentários:

  1. Esses problemas são visíveis na turma. Quem se arrisca a comentar?

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  2. Estava tentandO pOstar aqui desde O dia em que fOi pOstadO,rs.

    EngraçadO que, cOmentei O mesmO cOm um cOlega dias antes desse pOst.
    E falandO em EXTROVERSÃO, lembrO-me q, nO 1º dia de aula, entrei na Oficina já mOstrandO esse meu ladO (ñ tãO aO pé-da-letra)e antentandO-me de q se tratava de algO sériO e dO meu interesse, "cOntrOlei" (rs), cOm muitO esfOrçO, esse meu ladO cOtidianO e parei cOm essas "gracinhas".
    RelembrandO O Outro textO aqui pOstadO tbm, "AvaliaçãO: A velhinha Surda Da Última Fila", nOta-se O quantO brincadeiras, entre OutrOs 'mecanismOs', impedem a almejada evOluçãO dO jOgO.

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  3. Oi, Luana! Obrigado mais uma vez por contribuir com essa discussão. Só discordo de uma coisa: não se iniba. Dê tudo que você tem. Deixa que eu podo o resto. Você precisa ser você, o tempo inteiro. Assim irá entender mais profundamente o processo de criação. Não reprima a si mesma. Deixe seu desejo fluir. Você sendo você (rs) irá aprender a ser o outro. Com o tempo você entenderá o que digo. Um abraço!

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  4. Olá PawlO! É sempre um prazer cOmentar cada pOstagem aqui (rs). Mas, creiO que "gaiatisse" em aula atrapalha sim hein, rsrs. AchO que deixar esse 'ladO' fOra dOs meus ObjetivOs nãO irá me atrapalhar em jOgO. É cOmO se fOsse um alunO em aula, na escOla, que brinca demais, esse cOm certeza nãO terá um bOm rendimentO, entãO tOrna-se necessáriO que ele pare de brincadeiras e se cOncentre na aula. Apenas OmitO as brincadeiras e "falaçÕes" (rs) e me dedicO, inteiramente, nO jOgO. Mas te garantO, cOm tOda certeza, que, mesmO assim, estarei sendO eu mesma, pOrque cOnsigO dicernir uma cOisa da Outra. Ainda bem nãO é??! rsrs.

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  5. Oi Pawlo, estou gostando muito das aulas.
    Espero aprender a me reconhecer e encontrar todos os meus "Eus" interiores, quem sabe um dia, construir vários outros. Abraço!
    Patrícia Leite.

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