“... O objetivo final e supremo de todo
verdadeiro artista, seja qual for seu particular ramo de arte, pode ser
definido como o desejo de expressar-se livre e completamente.”
Michael
Chechov
AULA 4 – A METODOLOGIA DAS TRANSFERÊNCIAS
A aula de
hoje a gente começa com um exercício de identificação com a natureza, proposto
por Jacques Lecoq. Embora faça parte de todo um processo, este exercício, em
separado, é ótimo para trabalhar a respiração. Vamos lá:
Primeiro momento. “Estou diante do mar, eu observo, eu o
respiro. Minha respiração entra em harmonia com o movimento das ondas e,
progressivamente, a imagem se inverte e eu mesmo me transformo no mar...”
Segundo momento. Os atores dão início fazendo um trabalho
físico qualquer. Por exemplo: pintar uma parede, serrar uma madeira, varrer uma
casa. Enquanto vocês fazem um trabalho físico, uma ação que empenha o corpo em
um gesto repetitivo vão ouvir seis sons, tendo cada um, uma importância
diferente. O primeiro, vocês não escutam. (Isso não quer dizer que não haja
reação). O segundo, vocês escutam, mas não lhe dão nenhuma atenção especial. O
terceiro é importante: vocês até esperam para ver se ele se repete. Como ele
não se repete, vocês não vão mais prestar atenção nisso. O quarto é muito importante
e vocês até sabem de onde ele vem, o que os deixa tranquilos. O quinto não confirma
o que vocês estavam esperando. Finalmente, o sexto e último é um avião passando
sobre suas cabeças.
Terceiro momento. Utilizando-se da metodologia das transferências, técnica de Jacques Lecoq, que
“consiste em apoiar-se na dinâmica da natureza, dos gestos de ação, dos
animais, das matérias, para, daí, servir a finalidades expressivas, com o
intuito de interpretar melhor a natureza humana,” peço aos alunos que interpretem
o seguinte texto:
Numa manhã,
o mar acorda!
No banheiro,
o vento se penteia!
A árvore se
veste!
Alguém
raivoso bate à porta... é o fogo que chegou!
Quatro
árvores se encontram num banco, cumprimentam-se, apertam-se as mãos e
conversam.
Quarto momento. Como a aula é quase toda dedicada a Lecoq,
proponho aqui mais um exercício para um grupo menor, mencionando diferentes
cores e peço para reagirem o mais rápido possível, sem pensar, expressando o
movimento interior que lhes chega. Em seguida, tento todas as cores do
arco-íris antes de deixá-los escolher diferentes cores que se encontram na sala
de trabalho, a partir das quais eles propõem movimentos. Os espectadores
tentam, então, descobrir quais são as cores que eles nos apresentam.
Quinto momento. Neste exercício, os atores deverão
caminhar pelo ambiente, procurando algo que eles possam mimetizar. O ator
poderá escolher qualquer ser vivo ou não-vivo (água, por exemplo). Encontrado o
ser, eles deverão observá-lo atentamente por cinco ou sete minutos. Depois
deverá escolher um local e começar o processo de mimese. Num primeiro momento,
cada um fará sua mimese individualmente, como que estivesse experimentando o
mimetismo. Após o tempo necessário, eles são convidados a apresentar para os
demais. Ao final de cada apresentação, abre-se o debate para a análise do
processo de mimetismo. Pergunte: “Ele conseguiu transmitir o que ele havia
mimetizado?”
Fontes desta aula:
LECOQ, Jacques. O corpo poético: uma
pedagogia da criação teatral. São Paulo: Editora Senac São Paulo: Edições SESC
SP, 2010.
CIDADE, Pawlo. Ecoteatro. Itabuna-Bahia:
Editora Via Litterarum, 2010.
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