1. ORGANISMO ou MARIONETE?
O corpo do ator situa-se, no leque dos estilos de atuação, entre a espontaneidade e o controle absoluto, entre um corpo natural ou espontâneo e um corpo-marionete, inteiramente preso a cordéis e manipulado por seu sujeito ou pai espiritual: o encenador.
2. RELÉ ou MATERIAL?
A utilização teatral do corpo oscila entre as duas seguintes concepções:
a) O corpo não passa de um relé e de um suporte da criação teatral, que se situa em outro lugar: no texto ou na ficção representada. O corpo fica, então, totalmente avassalado a um sentido psicológico, intelectual ou moral; ele se apaga diante da verdade dramática, representando apenas o papel de mediador na cerimônia teatral. A gestualidade desse corpo é tipicamente ilustrativa e apenas reitera a palavra.
b) Ou, então, o corpo é um material auto-referente: só remete a si mesmo, não é a expressão de uma ideia ou de uma psicologia. Substitui-se o dualismo da ideia e da expressão pelo monismo da produção corporal: "O ator não deve usar seu organismo para ilustrar um movimento da alma; deve realizar o movimento com seu organismo" (GROTOWSKI, 1971:91). Os gestos são - ou ao menos se dão como - criadores e originais. Os exercícios do ator consistem em produzir emoções a partir do domínio e do manejo do corpo.
3. LINGUAGEM CORPORAL
A tendência do corpo-material é que predomina hoje na prática geral da encenação, pelo menos no teatro experimental. É por essa razão que, depois de liberados da tarefa textual e psicológica, os encenadores da vanguarda tentaram frequentemente definir uma linguagem corporal do ator: "a nova linguagem física baseada em signos e não mais em palavras", de que fala ARTAUD (1964:81), é apenas uma metáfora entre tantas outras. Todas têm em comum uma busca de signos que não sejam calcados na linguagem, mas que encontrem uma dimensão figurativa. O signo icônico, a meio caminho entre o objeto e sua simbolização, torna-se o arquétipo da linguagem corporal: hieróglifo em ARTAUD e MEIERHOLD, ideograma em GROTOWSKI etc.
O corpo do ator torna-se o "corpo condutor" que o espectador deseja, fantasia e identifica (identificando-se com ele). Toda simbolização e semiotização se choca com a presença dificilmente codificável do corpo e da voz do ator.
Fonte: Dicíonário de Teatro, Patrice Pavis, pp.75
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