"O ator curioso é aquele que investiga, ler e descobre a historicidade de cada personagem por ele criado." Pawlo Cidade

sexta-feira, 6 de junho de 2014

A METODOLOGIA DAS TRANSFERÊNCIAS


“... O objetivo final e supremo de todo verdadeiro artista, seja qual for seu particular ramo de arte, pode ser definido como o desejo de expressar-se livre e completamente.”
Michael Chechov


AULA 4 – A METODOLOGIA DAS TRANSFERÊNCIAS

A aula de hoje a gente começa com um exercício de identificação com a natureza, proposto por Jacques Lecoq. Embora faça parte de todo um processo, este exercício, em separado, é ótimo para trabalhar a respiração. Vamos lá:

Primeiro momento. “Estou diante do mar, eu observo, eu o respiro. Minha respiração entra em harmonia com o movimento das ondas e, progressivamente, a imagem se inverte e eu mesmo me transformo no mar...”

Segundo momento. Os atores dão início fazendo um trabalho físico qualquer. Por exemplo: pintar uma parede, serrar uma madeira, varrer uma casa. Enquanto vocês fazem um trabalho físico, uma ação que empenha o corpo em um gesto repetitivo vão ouvir seis sons, tendo cada um, uma importância diferente. O primeiro, vocês não escutam. (Isso não quer dizer que não haja reação). O segundo, vocês escutam, mas não lhe dão nenhuma atenção especial. O terceiro é importante: vocês até esperam para ver se ele se repete. Como ele não se repete, vocês não vão mais prestar atenção nisso. O quarto é muito importante e vocês até sabem de onde ele vem, o que os deixa tranquilos. O quinto não confirma o que vocês estavam esperando. Finalmente, o sexto e último é um avião passando sobre suas cabeças.



Terceiro momento. Utilizando-se da metodologia das transferências, técnica de Jacques Lecoq, que “consiste em apoiar-se na dinâmica da natureza, dos gestos de ação, dos animais, das matérias, para, daí, servir a finalidades expressivas, com o intuito de interpretar melhor a natureza humana,” peço aos alunos que interpretem o seguinte texto:

Numa manhã, o mar acorda!
No banheiro, o vento se penteia!
A árvore se veste!
Alguém raivoso bate à porta... é o fogo que chegou!
Quatro árvores se encontram num banco, cumprimentam-se, apertam-se as mãos e conversam.

Quarto momento. Como a aula é quase toda dedicada a Lecoq, proponho aqui mais um exercício para um grupo menor, mencionando diferentes cores e peço para reagirem o mais rápido possível, sem pensar, expressando o movimento interior que lhes chega. Em seguida, tento todas as cores do arco-íris antes de deixá-los escolher diferentes cores que se encontram na sala de trabalho, a partir das quais eles propõem movimentos. Os espectadores tentam, então, descobrir quais são as cores que eles nos apresentam.


Quinto momento. Neste exercício, os atores deverão caminhar pelo ambiente, procurando algo que eles possam mimetizar. O ator poderá escolher qualquer ser vivo ou não-vivo (água, por exemplo). Encontrado o ser, eles deverão observá-lo atentamente por cinco ou sete minutos. Depois deverá escolher um local e começar o processo de mimese. Num primeiro momento, cada um fará sua mimese individualmente, como que estivesse experimentando o mimetismo. Após o tempo necessário, eles são convidados a apresentar para os demais. Ao final de cada apresentação, abre-se o debate para a análise do processo de mimetismo. Pergunte: “Ele conseguiu transmitir o que ele havia mimetizado?”
               
Fontes desta aula:
LECOQ, Jacques. O corpo poético: uma pedagogia da criação teatral. São Paulo: Editora Senac São Paulo: Edições SESC SP, 2010.
CIDADE, Pawlo. Ecoteatro. Itabuna-Bahia: Editora Via Litterarum, 2010.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sua opinião é muito importante. Obrigado!